domingo, 27 de janeiro de 2008


Estão todos gritando rock and roll, mas eu diria que isto já está ficando batido; pertencente ao museu onde sua pútrida alma foi vendida.

O Refused foi uma banda que não teve medo de se apresentar. Eles saltavam de um lado para o outro do palco encenando todos os passos e poses das grandes bandas de rock, guitarras voando e pedestais de microfone dançando. Eles abraçaram seus papéis como estrelas - pelo menos enquanto tocavam. Eles faziam o possível para serem melhores que os roqueiros tradicionais usando seus próprios truques e fórmulas.

E é assim que deveria ser; eles são, afinal, uma banda de hardcore... ou seja, hardcore punk, ou seja, punk rock, ou seja, rock and roll. E o hardcore não é tão diferente assim do rock and roll, independente do que gostamos de acreditar. O hardcore ainda é sujeito às mesmas limitações que o rock and roll apresenta desde que foi retirado do underground negro e transformado em música comercial para o mercado branco adolescente. Ainda os mesmos velhos clichês: a platéia passivamente observando (ou na melhor das hipóteses, dançando), quatro caras com guitarras e bateria, a banda insistindo em procurar por algum acordo que ainda não foi muito usado, a platéia tentando sair de suas fatalmente entediantes realidades ao idolatrar o vocalista, que por sua vez inevitavelmente perpetua toda a farsa com algum "carisma" e egotismo reciclado. Ainda as mesmas relações econômicas, as bandas sendo meios para os capitalistas (corporativos ou privados) lucrarem à custa de todas as outras pessoas - na maioria das vezes a banda em si, que sente que deve ser paga somento pelo status em si. Sempre que uma banda de hardcore sobe no palco para tocar, para desafiar as pessoas e oferecer algo de novo, ela bate de frente com toda a história do rock and roll desde que foi castrado e comodificado. Não é de se admirar que tão poucas delas consigam abrir um caminho realmente novo e crucial, com todo o peso de anos de tradição, o peso morto de nosso passado.

O Refused admitiu tudo isso. Eles não tentaram escapar disso com algum desvio para disfarçar o já esgotado formato; eles aceitaram toda a rotina e a elevaram ao máximo. Alguns disseram que o Refused usou a fórmula do rock and roll para nos chocar, para evadir nossas expectativas; isto é verdade, mas eles fizeram isto nos mostrando o que já sabíamos (mas recusávamos admitir). E eles fizeram isto pelos seguintes motivos: primeiro, para serem sinceros com a embaraçosa herança do punk rock, para traçar toda esta constritiva história e assim poderem confrontá-la, subertê-la, ultrapassá-la. Até que alguém fizesse isto, ela estaria fadada a ser eternamente um fantasma nos assombrando, nos acorrentando.

As performances de rock and roll do Refused estabeleceram um conflito direto entre o passado e o presente em vários níveis. Todas as noites em que eles tentavam colocar tudo para fora, eles eram confrontados por anos de repetição, de drama se transformando em melodrama, de paixão se transformando em farsa; usando os velhos e decrépitos passos de dança, poderiam eles tocar forte o suficiente, com paixão suficiente, com desespero suficiente para escaparem da força gravitacional do passado e fazerem o rock and roll parecer novo mais uma vez por um único momento sequer? Não poderia haver um desafio mais que este, e os melhores shows do Refused mostravam que eles haviam conseguido.

E ao conseguirem, ele alcançaram um ato sagrado de liberação pelas cansadas e decrépitas fórmulas aplicadas. Porque tudo que é um clichê no rock hoje já foi mágico, temido, perigosamente profundo: da primeira vez que um guitarrista saltou ao ar, pode apostar que cada homem e mulher que o viram sentiram o mundo morrer e renascer de novo naquele momento. Lutar através das cicatrizes deixadas por Van Halen e imitadores ainda piores, roubar de volta e fazer com que os passos de dança de James Brown, os truques de guitarra de Little Richard, os poderosos passes de mágica vendidos como comodidades impotentes sejam excitantes novamente, resgatá-los em nome da luta por liberação e paixão da qual o rock and roll sempre foi parte (mesmo que com pouca consciência disto) em seus melhores momentos - fazer os mortos voltarem à vida, literalmente - quer tarefa mais romântica, mais quixoteana, mais bela do que esta?

Outro motivo pelo qual o Refused usava todas as performances do rock and roll foi para trazer à tona a tensão que existe em QUALQUER performance entre "sentimentos verdadeiros" e manipulação. Eles tocavam samplers manipulativos entre suas músicas para foder um pouco com as emoções do espectador, e faziam o mesmo ao utilizar performances que já estávamos previamente programados para responder de uma certa maneira. Vendo o Refused tocar, me senti simultaneamente respondendo à emoções reais e à ironia dos clichês utilizados; e, acima de tudo, eu conseguia até gostar dos clichês. Aquela tensão que existe entre o real e o falso está presente em toda a música de rock, e o Refused trouxe à tona esta dicotomia, brincou um pouco com ela, e ainda subverteu nossas idéias e expectativas ao apagar a linha entre as chamadas "reais" e "falsas" emoções, nos forçando a sair de nossos paradigmas e entrar em um mundo novo onde as velhas distinções são simplesmente inúteis.

Finalmente, o Refused nos forçou a registrar o quociente do entretenimento musical para assim poderem lidar com o problema de serem artistas procurando motivas as pessoas. Performance artística é um esporte de espectadores; sob condições normais, é incapaz de mover as pessoas, não fazendo nada mais do que reforçar sua passividade. O Refused deliberadamente se colocou em um pedestal para que percebamos que NÓS é que estamos observando, que o ambiente de um show de rock NÃO é uma democracia, que o rock and roll NÃO se importa com a liberação do espectador e sim com sua escravidão, para manter contas de banco e egos alimentados e hierarquias exatamente no mesmo lugar. Mas ao mesmo tempo, eles tentaram tocar com tanta paixão que acabaram transcendendo tudo isto. A única maneira de se chegar à motivação e ação através de uma performance artística é mexendo tanto com as pessoas que, apenas ao observar, elas consegue se RE-avaliar. E foi isto que o Refused fez para mim - em toda a minha vida eu nunca estive tão ativamente envolvido em observar alguma coisa. Do mesmo modo que eles se mexiam no palco, eu estava me movendo por dentro duas vezes mais, mudando, crescendo, questionando.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Elaborada pelo Centro de Direitos Humanos de Sapopemba para conscientizar a população do que um policial pode ou não fazer durante uma abordagem e como denunciar abusos. Com ilustrações e linguagem didática, a cartilha explica ainda como e onde denunciar, além de dicas para identificar o agressor de forma discreta. Vale destacar que a segurança privada também deve seguir a cartilha, a lei que serve para a policia que está a serviço do Estado também serve para a privada.

Segundo o promotor de Justiça Eduardo Dias de Souza Ferreira, a cartilha é importante por usar uma linguagem acessível e didática.“Para os policiais, esse material reafirma o que eles já aprendem na academia, além de sinalizar que as pessoas passam a ter conhecimento de seus direitos”.

O medo da população em relação às ações policiais é tanto que, como disse o Padre Júlio Lancelotti no documentário exibido no início do evento, “quando vem a polícia a gente tem que pedir socorro para os bandidos”. Há denúncias de policiais que com apenas um mandado invadem várias casas, de travestis e transexuais que são abordados de forma arbitrária simplesmente por serem quem são, além de mães que são humilhadas por questionar as atitudes dos policiais. E o perfil das vítimas todo mundo já sabe: pessoas em situação de pobreza, jovens e negros.

A cartilha está disponível também no site da Ouvidoria de Polícia (www.ouvidoria-policia.sp.gov.br ) e no site do Observatório de Violências Policial (www.ovp-sp.org) ou no Centro de Direitos Humanos do Sapopemba (Rua Vicente Franco Tolentino, 45 – (11) 6703-6654, o email é cdhs@terra.com.br.

Não fique calado! Veja alguns telefones que podem ser acionados 24 horas por dia:

  • Disque denúncia 181 – crimes cometidos por policias ou não, sem precisar se identificar. Pode ligar do orelhão, sem cartão.
  • Corregedoria da Polícia Militar - 3322-0190
  • Corregedoria da Polícia Civil 3231-5536, Ramal 3231-5536
  • Ouvidoria de Polícia 0800-177-070 - Podem ser feitas denúncias contra policiais civis e militares das 9 às 17 horas.

Em último caso, ligue 190 e explique a situação, pois não são todos os policiais que praticam abusos.


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FONTE: SABOTAGEM!

domingo, 13 de janeiro de 2008


Pode ser considerado um, ou algo do tipo, quando me coloco em frente a esse tipo de situação, mas passou a ser inevitável. Um ato falho sim, mas porque é tanta a insistência? Porque eu ainda sou um integrante do comitê de treinamento, sim!
Do Comitê de Treinamento de Macacos Espaciais, localizado em uma rua imaginária perto de você!
Agora podem se perguntar, que maldição é essa?

Não se desesperem porque nosso objetivo é justamente esse, localizar, explicar, persuadir, agradar e treinar você! Todos nós temos lados, somos todos multifacetados, e uma dessas várias somos no fundo no fundo Macacos, Macacos Espaciais! Pena que só você não percebe… talvez não perceba porque ainda não foi escolhido para uma dessas aventuras/treinamentos.
Todos nós obtemos/possuímos, qualidades, características, defeitos, modos, completamente distintos e totalmente variáveis a cada um de nós propriamente ditos.

Só você não reconhece…
Mas o que você faz? Escreve? Desenha? Canta? Xinga? Ou simplesmente não faz nada por pura opção?!
Meus caros, tolice perder esse tanto de tempo… Claro que não, podemos produzir, atenuar, especializar tudo isso que somos capazes e não só sermos considerados parte da estatísticas primata! E que tal fazer sua parte nisso?

O que você vê de errado? Seja modesto, vamos lá!
Não gosta do que lê? Então porque não comenta?!
Estou te incomodando e fazendo você perder seu tempo ao acessar, e pior, estar lendo toda essa baboseira? Então me diga!
Está insatisfeito e não é o suficiente? Vamos lá, tome seu leite com Moloko de hoje!

Estou esperando isso, sei que fará porque você se parece comigo, instintivamente age como eu, você tem seu ato falho quando nega esse tipo de coisa, afinal eu sou você em pessoa!
E porque não seria? Você tem suas insatisfações, suas revoltas, seus prazeres e suas muitas diversões. Você é um individualista mal acostumado e morre de angústia por saber que isso é verdade, eu sou, você é!

Então é isso, já cansei de você, não me parece que seja suficiente e produtivo o bastante dentro de nosso Comitê. Mas digo mais, ainda acredito em sua pessoa… Sentimental isso, não?! Talvez diga a você mesmo que não se interessou por isso, mas seria isso ou seria pelo simples fato de não ser capaz? ha ha! Vamos lá, me mande um email, tente criar alguma resposta a esse texto. Afinal somos todos espertos, inteligentes, modestos e capazes!

John Doe
Cabeça e Fundador – Comitê de Treinamento
anyonejohndoe@gmail.com

domingo, 6 de janeiro de 2008


PROVOS: a contracultura é laranja flourescente!!!!!!


Eles deram o pontapé inicial para a legalização do consumo de drogas na Holanda. Eles transformaram a bicicleta no mais folclórico meio de transporte de Amsterdam. Eles desenharam o uniforme que os Beatles usavam na capa de Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band. Ainda assim, eles eram praticamente anônimos no Brasil - até que a editora Conrad decidiu lançar "Provos: Amsterdam e o Nascimento da Contracultura", do italiano Matteo Guarnaccia. Você pode ir a Amsterdam todo final de semana, mas, até conhecer os Provos, pouco sabe sobre ela.

Como bons anarquistas que eram, os Provos (corruptela do termo "provokatie", ou "provocação") não chegaram a caracterizar um movimento organizado, menos ainda uma ideologia. A intenção desses jovens tresloucados do início dos anos 60 era debochar o mais cinicamente das tradições monárquicas holandesas da Casa Real de Orange e sua protegé , a burguesia consumista - o que, como veremos, conseguiram fazer com o máximo de diversão e ousadia. Ao contrário de seus irmãos caçulas, os românticos hippies, não desejavam mudar o mundo: " Não podemos convencer as massas, e talvez sequer nos interesse fazer isso. O que podemos esperar deste bando de apáticas, indolentes, tolas baratas? É mais fácil o sol surgir no oeste do que eclodir uma revolução nos Países Baixos (...) O homem médio é um comedor de repolhos, improdutivo, não-criativo, emotivo. Alguém que se diverte fazendo fila nos guichês", dizia a primeira de uma incendiária série de edições de revistas "Provo". E ainda: "Provo tem consciência de que no final perderá, mas não pode deixar escapar a ocasião de cumprir ao menos uma qüinquagésima e sincera tentativa de provocar a sociedade".

OS HAPPENINGS

E assim começaram em 1962, através de um formato que seria permanentemente adotado para zombar do status quo até o fim da galhofa, em 1967: o happening, evento efêmero que mistura arte e performance em locais públicos, criado em 1959 em Nova Iorque e imediatamente assimilado pelos artistas de vanguarda do mundo. Os heterogêneos Provos não eram exatamente artistas, mas tomaram o modelo emprestado e o executaram a sua maneira extravagante, a princípio com o único objetivo de espantar o tédio das conformidades. Happenings bizarros começam a espocar em Amsterdam: um sujeito escancara as portas e janelas de sua casa no auge do inverno, abre as torneiras, deixa a água congelar no chão e chama uma patinadora para exibir-se para os transeuntes curiosos; outro amassa papéis, com os quais recobre seu quarto, a calçada e os carros estacionados, gravando o ruído do amassado para posterior exibição em concertos nesta especialidade; dois times de ciclistas despem-se enquanto pedalam, até chocarem-se nus uns contra os outros. No entanto o caso mais assombroso foi o de Bart Huges, um estudante de medicina que em 1958 havia servido de cobaia nos experimentos com LSD na Universidade de Amsterdam. Huges realizou trepanação na própria caixa craniana (quer dizer, fez um furo no meio da testa com uma broca de dentista) e retirou o curativo para uma platéia ao som de tambores. Ele acreditava que seu "terceiro olho permanentemente aberto" lhe expandiria a consciência para sempre - e, é claro, aproveitou a oportunidade para chocar a massa incrédula.

Os caras eram do barulho, mas se até hoje você jamais havia escutado falar deles, a culpa não é sua. Matteo Guarnaccia explica que, além do simples fato do bando de doidos Provos estar circunscrito à Holanda, alardeando suas causas válidas e idéias cretinas através dos tablóides escritos em holandês, a ele "faltou também aquele megafone fundamental representado pela música pop. Se no mundo anglo-saxão o movimento pacifista e alternativo pôde contar com grupos ou cantores de música folk para amplificar e difundir sua mensagem, nada parecido aconteceu na Holanda, do ponto de vista musical".

As excursões Provo para fora da Holanda foram poucas e breves. Passaram pelo Marrocos, Ibiza, ilhas gregas (antecipando-se em pelo menos quatro anos às badaladas migrações hippies) e estabeleceram-se por algum tempo em Londres, tornando-se ícones da casta de artistas psicodélicos. Foi quando desenharam os figurinos de Sgt Pepper´s, e a Provo Marijeke Koger tornou-se a grande estilista dos malucos ingleses, aproveitando para executar um happening onde fez a dança dos sete véus inteiramente nua, pintada com cores fluorescentes.

CIGARROS, SÓ MARIHU

Foi em 62, com Robert Jasper Grootveld, que a saga começa a tomar um formato mais ou menos definido. Grootveld, um fumante inveterado, decide começar uma hilariante campanha antifumo por Amsterdam, por onde anda totalmente fantasiado de feiticeiro africano, pintando a palavra "câncer" sobre todos os cartazes publicitários de cigarros das ruas. Foi preso algumas vezes, chegando, gratuitamente, às mesmas páginas de jornais que as corporações de tabaco pagam milhões para anunciar. Uma vez solto, usou um casebre velho numa região boêmia para realizar rituais antifumo que atraíam cada vez mais pessoas; mais tarde, transferiria os eventos para a praça Spui que, além de exibir uma estátua presenteada pela Hunter Tobacco Company para a cidade, ficava estrategicamente próxima à maioria das redações dos jornais.

Em 64, no clímax de seus protestos, já considerado um herói na cidade, Grootveld junta-se a Bart Huges para lançar o Marihu Project, um plano para reivindicar a legalização da maconha (afinal consideravam o cigarro uma "droga legalizada") e tirar um sarro da polícia. Espalharam por Amsterdam centenas de maços pintados à mão com desenhos fluorescentes, contendo baseados feitos com folhas secas catadas dos parques, algas, palha, pedaços de cortiça e também, naturalmente, a boa e velha cannabis. Concomitantemente, fazem circular cartas com as regras do jogo: "Cada um pode fabricar sua Marihu (...) Cada qual pode criar suas próprias regras, ou omiti-las".

O happening é um sucesso retumbante, em pouco tempo as centrais telefônicas da polícia estavam congestionadas com chamadas anônimas de cidadãos denunciando os próprios vizinhos como usuários de maconha, a maioria delas feitas pelos próprios Provos para causar confusão. Os homens da lei são obrigados a um ritmo de trabalho estressante, chegando a declarar para a imprensa que a situação começava a se tornar "problemática". Grootveld observa, muito apropriadamente: "Para dar caça a alguns consumidores de erva, uns agentes, notórios consumidores de nicotina, efetuam incursões-surpresa, que depois são propagandeadas na imprensa, mediante artigos escritos por jornalistas amiúde alcoolizados e lidos por um público que, por sua vez, é escravo da televisão ou da nicotina. Quem tem direito de dizer ao outro que não deve consumir uma determinada substância?"

PROVOLIFERAÇÃO

Em 65, reuniões na Spur à toda, a própria família real holandesa dá a deixa para a institucionalização da zorra Provo. A princesa Beatriz decide casar-se com Claus von Amsberg, um diplomata alemão que servira nas fileiras do exército nazista. Sofisticadas manobras políticas foram executadas, nos bastidores, pela Casa Real de Orange para reverter a péssima repercussão inicial que o noivado conseguiu junto à população e à imprensa. Quando o mal-estar parecia contornado, chega às ruas a terceira edição do tablóide Provo, atacando o futuro príncipe por todos os lados. O provotariado os esconde dentro dos jornais matutinos, sobretudo os sensacionalistas conservadores; em resposta, a imprensa começa imediatamente a atacar os Provos, fornecendo a primeira e necessária publicidade à causa anticasamento de nossos heróis. Para consolidar a rixa, na ocasião do desfile de lancha de Beatriz e Claus pelos canais de Amsterdam, alguns Provos lançam cópias da terceira edição da revista, sobre o casal.

A esta altura, tanto o prefeito como o chefe de polícia da cidade ensaiam posturas linha-dura para lidar com os rebeldes. Mesmo assim os embates são sempre bastante frustrantes: ao contrário dos manifestantes clássicos, os Provos não reagem aos cassetetes dos agentes; apenas dispersam-se e voltam a juntar-se alguns quilômetros mais adiante, num claro esquema de manifestação não-violenta - modelo que se tornaria a tônica das passeatas antibélicas e antiditadura que dominaram a Europa e as Américas na década de 60. Diversas edições dos tablóides Provo são apreendidos, seus editores multados por utilizarem fotografias sem licença. Mas tudo isto só servia para disseminar suas mensagens, alavancando sua popularidade.

Então, em pleno boom automobilístico, os rituais antifumo da Spur transformam-se em campanha anticarro. Os Provos iniciam sua cruzada contra os motoristas, "consumidores hidrocarburodependentes mimados pelos traficantes de petróleo". Recusam-se a participar do sonho-classe-média de adquirir um automóvel, reivindicando o direito de não consumir; chamam a atenção para o tombo que os carros causam à qualidade de vida das cidades, entupindo o espaço público, causando acidentes e envenenando o ar; e, com o Plano da Bicicleta Branca, proclamam um meio de locomoção "socialmente responsável".

É quando publicam um manifesto na quinta edição do tablóide; depois, endereçam uma carta à prefeitura, reivindicando a compra de 20 mil bicicletas brancas comunitárias por ano. A idéia era que estivessem permanentemente disponíveis nas ruas para uso gratuito do cidadão comum, e que este as deixasse para o usuário seguinte quando cumprisse seu trajeto. O plano foi copiado, com sucesso, ao redor do mundo: Estocolmo, Oxford, Berkeley. Em Amsterdam, os próprios Provos espalharam bicicletas pela cidade, e simpatizantes da causa começaram a levar as suas para serem pintadas de branco nas reuniões semanais. Os policiais confiscaram as bicicletas comunitárias com a ridícula justificativa de que, como não tinham dono, representavam um estímulo ao roubo; e começaram a reprimir os encontros da Spui com progressiva violência, transformando-os em choques em praça pública. Entre reuniões com delegados, prisões e manchetes enraivecidas nos jornais, os Provos fizeram diversas tentativas de pacificação da situação, sem sucesso.

Com os ânimos libertários em ebulição, ainda lançaram o Plano das Mulheres Brancas de liberdade sexual (já pedindo a venda de camisinhas a preços baixos), que poucos anos depois seria a tônica do movimento feminista e de direito dos homossexuais; fizeram manifestações anticolonialistas, condenando a política repressiva contra os indonésios que lutavam pela independência, e de direitos humanos contra as ditaduras de Franco (Espanha) e Salazar (Portugal); constituíram pequenas comunidades alternativas rurais; e puxaram os protestos contra a guerra do Vietnã, criando um escarcéu delirante diante da embaixada americana local. Ainda sobrava energia para esportes menos engajados, como pintar a casa do prefeito de branco ou suspender uma discussão sobre o casamento da princesa Beatriz no Parlamento de Haia usando uma sirene de bombeiro.

As apreensões das revistas Provo ofereceram grande publicidade para a publicação, que passou das iniciais 500 cópias para as 20 mil cópias da derradeira edição. Na esteira desse crescente sucesso, 1965 foi o ano da explosão da imprensa underground holandesa, pasquins pipocando por todo país. Tinham concepção gráfica inovadora e inspiraram publicações por todo o globo, como a londrina It, que por ser em inglês se tornaria referência internacional do gênero. Em 64, Grootveld, visionário, disse que "os jornais se tornarão cada vez mais conformistas, cada vez mais corruptos, cada vez mais dependentes dos sindicatos da droga e da nojenta classe média (...) Vai se desenvolver um sentimento de dúvida em relação aos meios de comunicação. O resultado será o florescimento de uma imprensa descentralizada, talvez até mesmo ilegal (...) No futuro, cada um terá seu pequeno jornal. Porque não podemos esquecer que temos uma revolução ao alcance das mãos". A internet, com seus sites independentes e blogs, está aí para confirmar.

ESTRELATO EXIGIU DESINTEGRAÇÃO

As semanas que se antecipavam ao casamento da princesa Beatriz com Claus desencadearam uma verdadeira paranóia acerca do que os Provos estariam planejando para a ocasião. Os rumores variavam de homens-rãs treinando para despontar pelos canais durante o cortejo real, gravações com estampidos de armas e estouros de bombas para levar a polícia a responder com fogo, até o despejo de LSD no aqueduto da cidade, para fazer a população viajar durante a cerimônia. Equipes de químicos analisam diariamente a água, a polícia invade a casa do provotariado, grampeiam telefones. De nada adianta. Em 10 de março de 66, dia do casório, Amsterdam está em estado de sítio, acessos bloqueados, hospitais em prontidão, helicópteros rodopiando, os noivos com colete à prova de balas por baixo da indumentária nupcial. Os Provos declararam o "dia na anarquia" e começaram lançando cerca de duzentas bombas de fumaça nas salas de imprensa internacionais e pelas ruas. O caos tomou conta da cidade, a multidão ensandecida corria dos policiais a cavalo, que os espancava até que perdessem os sentidos. Os choques começaram de manhã e duraram até alta madrugada. De dentro da igreja ouvia-se o coro gritando "República". Um Provo conseguiu deter a carruagem real atirando uma galinha branca nas pernas dos cavalos que a puxavam, e foi jogado dentro do canal por um grupo de monarquistas.

O resultado publicitário alcançado pelos Provos foi o melhor possível, no dia seguinte todos os principais jornais do planeta noticiavam a esbórnia - a maioria, evidentemente, chamando-os de "indígenas", uma "subespécie humana". Em contrapartida, legiões de cabeludos de todos os continentes começam a invadir Amsterdam. Nove dias depois do casamento, é aberta a exposição fotográfica "10-3-66", com imagens da recente brutalidade da polícia. Os Provos aproveitam para lançar o Plano das Galinhas Brancas, onde divulgam o zombeteiro programa "Amigos da Polícia", exigindo, entre outras cretinices, seu desarmamento. Instantes mais tarde os homens da lei juntam-se ao evento, reproduzindo a performance do dia 10 de março. A televisão transmite o pandemônio.

Com a popularidade nas estrelas, o provotariado pensa em lançar dois candidatos para as vindouras eleições da Câmara dos Vereadores de 1 o de junho de 66. Instala-se uma discussão animada no grupo, uns achando que a idéia fere o princípio anarquista, outros pensando que os rebaixaria do eletrizante status de movimento de rua à indigna força política institucional. No entanto, movidos pela possibilidade de fiscalizar os políticos de perto e descansar da polícia, lançam 13 candidaturas, cobrindo Amsterdam com espetacular propaganda política: colagens enormes, sutiãs pintados, decoração natalina, esculturas com cores fluorescentes, pincéis colados em muros - todos com o número da chapa, 12. Os slogans variavam de "Vote Provo para ter tempo bom!" a "Vote Provo e darão boas gargalhadas!"; os comícios aconteciam na praça Spui; os programas de governo incluíam os Planos Brancos (bicicletas, mulheres, galinha, etc). Conseguiram inacreditáveis 13 mil votos (2,5%) e amealharam uma cadeira, que foi ocupada em regime de rodízio por cinco diferentes Provos ao longo dos cinco anos de mandato. O primeiro deles, De Vries, vai à Câmara descalço e arrota cada vez que inicia um discurso para os colegas. "É a prova viva de que os Provos não estão interessados no poder, não o querem e não sabem o que fazer com ele", diz o autor do livro.

A saga Provo ainda atraiu os rançosos estudantes situacionistas franceses, que pretendiam analisá-los; dá matérias históricas nos principais jornais psicodélicos americanos, dando uma lavada em seus leitores ao insinuar que os hippies pouco sabem sobre contracultura; e começam a ver a si próprios se tornarem pop: uma agência de turismo inclui uma visita à Spui na agenda de passeios e o órgão estatal para turismo organiza, numa cidade próxima a Amsterdam, falsos happenings, com encenações envolvendo falsos Provos e falsos policiais, tudo muito à la Disneyworld.

Para não se tornarem caricaturas de si próprios, já que são plenamente conscientes de que estão atuando na sociedade do espetáculo, em maio de 67 nossos protagonistas decidem baixar as cortinas. Fazem-no através do 15 o número do tablóide e uma festa de despedida no Vondel Park. Afinal, sem o apoio do chefe de polícia e o prefeito de Amsterdam, que foram despedidos por ineficiência, não fazia mais tanto sentido.





(ROUBADO de www.mood.com.br)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


The (international) noise conspiracy- A new morning, changing weather

Quando o Refused se tornava página virada com o comunicado de imprensa "Refused is fucking dead,!long life to Refused!", Denis lyxzén montava outra banda menos ousada sonoramente, mas tão combativa, e inteligente quando o Refused...
Já me descreveram essa banda como o encontro musical de Che Guevara com Elvis , Gang of Four e MC5...mas como eu não gosto do Che(sim! eu não gosto do Che!Alguém aí vai me bater ? ),eu prefiro descrever como um encontro de Daniel Cohn-Bendit com MC5...Garage Rock dançante com influências de soul music e dos mods da swinging london(yardbirds,the who,kinks e small faces), isso sem contar as letras , que são tão boas e criticas quanto as do Refused,críticas e com frases bem sacadas...(vide a "Bigger cage ,longer chains", "Capitalism stole my virginity", e a faixa título)
Como diria a revista portuguesa Mondo Bizarre:"Num mundo, como o definiu Debord, em que todos somos parte da Sociedade do Espectáculo, o T(I)N C são um dos seus membros mais críticos. Mas como ser-se uma prostituta cultural é o que está reservado a todos que tornam o seu trabalho público, à banda só resta continuar a ser uma puta de luxo."

"SMASH IT UP CUZ CAPITALISM STOLE MY VIRGINITY!"


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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008


Maio de 68, por Solidarity (Coleção Baderna)

Um livro da Coleção Baderna sobre a maior rebelião estudantil/operária do Século XX... Um diário escrito no calor dos acontecimentos, com detalhes importantes, como por exemplo a postura retardada e idiota do partido comunista francês (tem coisa que é igual em todo lugar do mundo... Partido comunista e tudo igual mesmo), que tentou de todas as maneiras sabotar a rebelião, a atitude cordial de operários e estudantes, que começaram a experimentar formas auto-gestionárias nas universidades e fábricas de paris, enfim, para quem já conhecia a a história e para quem não conhece...

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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Banksy é um dos mais conhecidos artistas de rua do mundo. Nascido em Bristol, Reino Unido em 1975 seus stencils são facilmente encontrados nas ruas de Londres.

Não se sabe a identidade de Banksy. Ele não costuma dar entrevistas e fez da contravenção uma constante em seu trabalho, sempre provocativo.

Recentemente, ele trocou 500 CDs da cantora Paris Hilton por cópias adulteradas em lojas de Londres, e colocou no parque de diversões Disney uma estátua-réplica de um prisioneiro de Guantánamo.

Sua obra é carregada de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder.

Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade.
Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reação de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.



Mais em wikipedia.org
(clique nas imagens para ampliá-las)


Há um tempo eu já tinha visto um de seus grafites mas não fazia idéia do que realmente o cara é capaz, vale a pena ver seus rascunhos, stencils, grafites em seu site oficial.








Queen Vic










Cop Girl















Kissing Copper


BANKSY!