sábado, 29 de dezembro de 2007


GBH - City Baby Atacked by Rats

1. Time Bomb (2:29)
2. Sick Boy (2:33)
3. War Dogs (1:30)
4. Slut (2:32)
5. Maniac (2:09)
6. Gunned Down (2:35)
7. I Am The Hunted (2:52)
8. City Baby Attacked By Rats (2:36)
9. Prayer Of A Realist (2:30)
10. Passenger On The Menu (2:50)
11. Heavy Discipline (2:12)
12. Boston Babies (2:09)
13. Bell End Bop (5:07)
(clique na capa para fazer o download)


Um disco que assim como dentre tantos outros discos tem uma certa notoriedade quando escutados e apreciados em estados emocionais um tanto que explosivos
/agressivos.
Escute e saia para beber, brigar e esfriar um pouco a cabeça!

"
Perpetual torture, from those we love to hate. It's meant to be, you can't change fate!"

"Como foi que você entrou? Fique longe de mim, seu sapinho malfeitor, ou lhe bato!"

Se assim como eu, que ainda não assistiu ao filme, vale a pena fazer o download do livro. Dispensa comentários, resenhas e blablabla.

Mas se ainda não conhece:
Clockwork Orange (Laranja Mecânica)

Livro de Anthony Burgess conta a história de Alex, um garoto que junto com outros jovens de sua gangue, praticam roubos, espancamentos, estupros por toda uma Londres arrasada de um futuro indeterminado. Alex pratica a violência por puro prazer, assim como a maioria dos jovens de sua idade.

Burgess causou grande estranhamento em seus leitores por conta do vocabulário de Alex, cheio de gírias nadsat - termos eslavos e palavras rimadas que exigem dedução para o entendimento. Exemplo: a rot do vekio estava cheia de krov vermelho quando lhe demos um toltchock; tiramos as platis da devotchka e seus grudis eram horrorshow, etc. O livro chocava também por sua violência e os conflitos éticos que cercavam o jovem Alex, suas punições e a sociedade.

Seu título provém de uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução simplificada, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica".

Foi adaptado para o cinema por Stanley Kubrick em 1971


Links:
DOWNLOAD
DEFINIÇÃO "ULTRAVIOLENCE" - WIKIPEDIA (INGLÊS)
FONTE




(clique na imagem para ampliá-la)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Damaged - Black Flag

Todo mundo tem seus dias ruins, seus dias de fúria e raiva (não que esses dois sejam tão ruins assim..), quando você quer sumir do mundo ou quer que o mundo se exploda (no meu caso a segunda opção vale pra a maioria das vezes...) esse disco é a trilha dos meus dias ruins, junto com mais alguns outros como "Closer" do Joy Division, "Fuel For The Hate Game" do Hot Water Music... Letras sobre dor, ódio, paranóia entre outros sentimentos bonitinhos... Uma coleção de letras raivosas, perdidas e urgentes, frases geniais espalhadas, sobre guitarras sujas, com solos micro tonais, vocais furiosos... Letras como "Thirsty and Miserable" (Sedento e miserável, você cai ao chão. Você bebe até não poder ver mais nada. Sedento e miserável, sempre querendo mais...), "Depression" (Aqui, tudo é culpa minha. Não tenho ninguém que se importe. A situação me faz sangrar. Não existe alivio pra uma pessoa como eu...) "Damaged II" (Estragado por você estragado por mim. Confuso, confuso não quero ficar confuso. Esforços estúpidos, confuso confuso não quero ficar confuso...) e "Padded Cell" (A terra é uma cela acolchoada, (...) Eu vivo no inferno!! Esse paraíso é uma fraude!) que batem muito bem com meus tempos ruins... Ainda mais com uma trilha que dá vontade de quebrar a casa toda e sair socando quem pisa nos meus calos até ver sangue... A perfeição pra quando eu quero matar meio mundo com requintes de crueldade!

RISE ABOVE! WE GONNA RISE ABOVE!!!!!!

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Pequena alusão ao último parágrafo do texto anterior.

clique na imagem para ampliá-la! Mais em nothingnice.com

DESTRUIÇÃO: O PUNK EDIFICADO EM GUY DEBORD
Cristiano Bastos

Talvez o vocábulo que melhor defina uma paternidade musical para o Punk seja "inextricável". Um timbre com essas qualidades, ainda que o Sex Pistols não tivesse sido forjado e lucrado as maiores condecorações do levante, em 1977, inevitavelmente teria se imposto através do legado sônico de grupos seminais como New York Dolls, The Kinks, The Stooges, The Who, Velvet Underground e muitos outros. No plano da contestação de cânones artísticos e da retórica política, contudo, a genealogia do Punk tem outra ascendência. Uma análise que remonta as primeiras vanguardas de revolta contra a arte no século XX, os chamados "Ismos": Futurismo, Dadaísmo e o obscuro - mas de significação estética decisiva - Situacionismo.

Na Itália, o Futurismo de Fellipo Marinetti desencadeia uma nova vanguarda de revolução contra os moldes impostos pela inteligência produtora de arte no início do século, fundindo, num só expediente, a dinâmica pintura-poesia-música-moda-política e arquitetura. Entusiastas da publicidade, o Primeiro Manifesto, redigido por Marinetti, em 1909, louvava a juventude, as máquinas, o movimento, a energia, a guerra e a velocidade. Um incontestável pendor juvenil, que muito remete ao Punk, pela semelhança de atitudes e o ímpeto de reinventar.

O elemento destruir é o amálgama entre Punk e Futurismo; a dicotomia está no "o que" precisamente destruir. O Futurismo almejava dizimar modelos artísticos senis, imbuído em uma rearquitetura da arte. Um dos núcleos da rebelião Punk é a insubordinação contra os estandartes que levaram o Rock à monotonia e à opulência semi-erudita, e conflagraram, in loco, seu acontecimento.

Se o Futurismo havia se maravilhado com a possibilidade estética da guerra (algo "ruidoso, veloz e teatral"), antes de ela ocorrer, o Dadaísmo insurgiu-se em oposição às fascinações desta ordem. Ainda que partilhassem da mesma revolta a determinado tipo de realização artística, os dadaístas estavam em dissonância face à definição de arte. Surgido em 1916, em Zurique, na Suíça, ao inverso do Futurismo, o Dadaísmo não era de um movimento propriamente artístico, sendo mais atitude do que estilo.

Erigido por uma linhagem de "artistas" avessos ao trabalho, que acreditavam estar alienados muito além das belas-artes, dos quais os mais loquazes expoentes são o poeta Tristan Tzara e o artista plástico Marcel Duchamp, o Dadá agiu com atos subconscientes e formulações extravagantes nas investidas de sua plataforma utópica. A arte, segundo o credo dadaísta, é mera falsificação imposta pela sociedade burguesa, uma válvula de segurança moral, idêntica ao trabalho.

Duchamp, o qual declarava-se anti-artista, dizia que "aqueles que olham é que fazem os quadros". Seu próprio caso é bastante elucidativo nesse sentido. A contribuição de Duchamp para dessacralização da aura de gênio ostentada pelos artistas, uma reminiscência herdada do romantismo, ajudou a solucionar o enigma fantástico do átimo criativo. Ao utilizar em obras objetos manufaturados, modificados ou não, Duchamp inaugura os ready-mades. A peça Fontaine, de sua autoria, um mictório elevado ao estatuto de arte, é exemplo dessa possibilidade.

Embora o street punk londrino tenha origens não-intelectuais, absorvidas de ferozes slogans de torcidas de futebol, como o Streetford End of Mancheste United ("Nós Odiamos os Humanos!" era o grito de guerra entoado) e a literatura skinhead de Richard Allen, alguns protopunks politizados, egressos das academias de arte britânicas, como os membros da banda The Clash e o empresário Malcom McLaren, posteriormente retomaram doutrinas futuristas e dadaístas. A absorção do conteúdo anarquista das duas escolas, um dia vanguardas, talvez tenha ocorrido justamente pelo caráter monolítico dessas instituições de ensino. Nos anos sessenta, McLaren era estudante da Croydon Art School, onde tornou-se colega de Jamie Reid, futuro designer do Sex Pistols que, entre outros grafismos, foi responsável pela capa do single anti-jubileu "God Save The Queen". "Eu aprendi política e entendi o mundo através da história da arte", rejubilava-se McLaren.

A temática anti-arte-antilabor dos dadaístas é retomada de forma mais contundente, na década de 50, na Itália, pela Internacional Situacionista, sob a luz de Guy Debord. O termo "situacionismo", que numa significação estrita remete a posições políticas reacionárias, conforme o panfleto número 9 da Internacional Situacionista, de 9 de agosto de 1964, "é uma palavra que contém em si mesma sua própria crítica; uma atividade que pretende fazer as situações e não as examina em função de um valor explicativo ou qualquer outro". Foi desse filão intelectual, na não-reconhecida seção inglesa situacionista intitulada King Mob, que Malcom Mclaren usurparia idéias e emblemáticos slogans para o estopim da Blank Generation em 1977 - outro lampejo alheio, vislumbrado pelo protótipo punkster Richard Hell. Elementos visuais da cultura underground novaiorquina, a comitiva Pop Art reunida em torno de Andy Warhol na Factory e a banda New York Dolls, tiveram assimilação de natureza distinta nessa gênese, assim como o extemporâneo crossover envolvendo Pop Music, Power, Motherfuckers, White Panthers e a banda protopunk MC5. A filosofia professada por McLaren era mais ou menos a seguinte: "se você não roubar as coisas que percebe a sua volta, só porque elas a inspiraram, então você é um estúpido. O mundo é feito de plágios."

Guy Debord, filósofo, agitador social, cineasta e autêntico misantropo de sua práxis, teve uma trajetória envolta em legítimos desastres do destino, o que torna a confrontação com Sid Vicious, baixista dos Sex Pistols, e o americano Darby Crash, vocalista do grupo The Germs (ambos mortos tragicamente em razão do estilo de vida Punk), uma extravagante coincidência. Autor da desdenhada obra A Sociedade do Espetáculo, em 1967, mas de vital importância para alas extremistas em maio de 68, Debord viveu no auto-isolamento, sendo ignorado tanto pela imprensa como por lúmpen-intelectuais. Desprezo que talvez encontre explicação no fato de ele mesmo intitular-se "doutor em nada"; nunca freqüentou bancos acadêmicos, tampouco abandonou as teorias que formulou. Retratos seus são raros e jamais concedeu uma entrevista sequer em toda vida. Aumenta nele a mácula de maldito o pai ter exaurido a fortuna da família, acumulada durante gerações, e ter sido implicado no assassinato do amigo e editor Gérard Lebovici, em 1984, em Paris, incidente que justifica como "uma emboscada não explicada".

Debord publicou A Sociedade do Espetáculo com o objetivo de legar um apêndice teórico plausível aos situacionistas, até então órfãos de um, e obteve alguma repercussão nos meios intelectuais e estudantis franceses. Através de uma aleatória compilação de conceitos de concisão aforística sobre a lógica de funcionamento do império midiático, o livro perfila uma acurada análise acerca da moderna sociedade de consumo. O desdobramento de imagens manufaturadas, transmitidas no feitio de eventos palpáveis de política e de cultura, como substitutas da veemente ação criadora, é a principal insígnia situacionista contra a sociedade espetacular análoga à arte. Tal sociedade, no horizonte vislumbrado por Debord, fincada nos alicerces do espetáculo, é "o capital em tal grau de acumulação que se personifica em imagem".

No artigo de 1988, "Comentários sobre a Sociedade Espetacular" - com dedicatória a Lebovici -, Debord revela ter suprimido de A Sociedade do Espetáculo inúmeras conclusões relevantes. O intuito, segundo ele, foi privar os agentes do espetáculo de conhecerem detalhes sobre o organismo desta sociedade e gerar, deliberadamente, o ruído que produz a desinformação.

No mesmo ensaio, Debord acautela-se: "É preciso levar em consideração que, dessa elite que vai se interessar pelo texto, quase metade é formada pelos que se esforçam para manter o sistema de dominação espetacular, e a outra metade por aqueles que se obstinam em agir em sentido oposto. Como devo levar em conta leitores muito atentos e de tendências diversas, é evidente que não posso falar com inteira liberdade. Devo ter cautela para não ensinar demais". Mas o protecionismo de informações de Debord justifica-se, levando em conta que Malcom McLaren certamente deveria ser um desses leitores bastante atentos.

O homem que "inventou o Punk", egresso da King Mob, abandonou a causa revolucionária situacionista e transformou a crítica anticapitalista e antiarte numa forma de encher os bolsos de dinheiro. A King Mob, na verdade, apesar da retórica situacionista, tinha sua ascensão de outros grupos. McLaren, por exemplo, vinha da cena freak anarquista em Notting Hill, oeste de Londres. "Não há limites à nossa total ausência de lei", promulgavam eles no volante impresso King Mob Echo.

Da King Mob, Mclaren deu prosseguimento à farsa ao encampar frases de efeito da cartilha situacionista e aplicá-las aos Sex Pistols, dando-lhes semântica e alvos novos. "Fique Puto, Destrua!" (Get Pissed, Destroy!), de "Anarchy In the UK" (Anarquia no Reino Unido) - banida das rádios - e "Sem Futuro!" (No Future!), da música homônima, epistemologicamente, muito traduzem o apocalipse situacionista da arte, a qual, para ser realizada, deve ser destruída. Debord e seu séquito, contudo, não estavam nem um pouco interessados quanto à representação da King Mob em solo britânico. Um comentário realizado na Internacional Situacionista 12 evidenciava a aversão dos debordistas à fração britânica: "uma trupe chamada King Mob...passa-se, de maneira bastante errônea, por ligeiramente pró-situacionista".

Para Debord, o espetáculo é apenas o aspecto mais visível e superficial de uma verdadeira maquinaria de manipulações que fragmenta a vida cotidiana em imagens. Essa imagética, veiculada pelos meios de comunicação, induz os indivíduos a consumir, passivamente, tudo o que efetivamente lhes falta na vida real. Para Debord, o espetáculo é administrado pelo próprio espetáculo, uma entidade viva governando a sociedade. Esse fenômeno, fruto independente de sua cognição, é uma artimanha, espécie de conluio maligno engendrado pelas sociedades capitalistas, que tornaram a economia um fim e a alienação, subsidiada pelo espetáculo, uma forma de domínio. Debord critica até mesmo os metadebates realizados sobre o espetáculo, atribuindo-lhes o epíteto de "discussões vazias". As diretrizes dessas discussões também são ditadas pelo espetáculo, a fim de que não revelem absolutamente nada sobre sua pragmática.

Algumas teorizações envolvendo a Internacional Situacionista e o Punk, porém, estão inventariadas em análises de que se depreende um certo nonsense ao concatenar as duas unidades. O jornalista americano Greil Marcus, utilizando o método de livre associação no livro Lipstick Traces (Marcas de Batom), de 1990, faz interligações genealógicas que culminam em fatos referentes a ambos. Por exemplo: a semelhança fonética entre John of Leyden (pertencente à tradição do Livre Espírito das heresias medievais) e Johnny Lydon (pseudônimo de Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols), é encarada por Marcus como uma "releitura radical e extravagante da história". Marcus, entre outras considerações, postula que "a Internacional Situacionista foi uma bomba, que passou despercebida no seu tempo, e iria explodir décadas depois sob a forma de 'Anarchy In The Uk' e 'Holydays In The Sun'". O autor credita a McLaren a conexão entre os dois movimentos.

O ideário faça-você-mesmo, todavia, praticado singularmente pelo Punk, cuja principal alavanca foi McLaren, na encarnação do Sex Pistols, já é semeado pelos situacionistas em 1960. Na Internacional Situacionista 4, de 17 de maio, o papel do sujeito comum - imberbe e roufenho nas grandes massas - pode ser o de realizador artístico e o nascimento da máxima faça-você-mesmo fica visivelmente perceptível. "Inauguramos agora o que será, historicamente, o último dos ofícios. O papel de situacionista, de amador-profissional, de anti-especialista, é ainda uma especialização até o momento da abundância econômica e mental no qual todo mundo se tornará 'artista', num sentido que os artistas não alcançaram: a construção da própria vida".

E a questão da erudição sonora proposta pelos praticantes do chamado Rock Progressivo (que reinou despoticamente em respeitável parte dos anos 70 e terminou por desencadear outra legítima revolta Punk), é homóloga ao desgosto tanto de punks quanto de situacionistas, na figura de Debord, ao caráter experimental da música. Johnny Rotten celebrizou-se ao vestir uma camiseta com os enfáticos dizeres "I Hate Pink Floyd" (Eu odeio Pink Floyd) na época em que a banda era a divindade intocada da geração progressiva e gigante da música pop de então.

Em 1967, às vésperas de o Pink Floyd lançar o primogênito álbum The Pippers Gates of Dawn, o baixista Roger Waters escreveu uma espécie de minimanifesto, distribuído pela gravadora inglesa EMI como parte da estratégia de divulgação. Nessa época, o rótulo "Rock Progressivo" nem havia sido cunhado e o sistema nervoso da banda ainda era Syd Barret, que vitimado de outra modalidade de misantropia, a lisérgica, foi literalmente segregado da banda no disco seguinte, The Saucerful of Secrets. Waters parece escarnecer do sentido "anti" do qual certos movimentos se revestem. O que pronuncia no manifesto soa como uma réplica à negação da música experimentalista que Debord tanto execrava e um anticorpo à aversão e o ódio dos punks ao Rock Sinfônico de exatamente 10 anos depois. "Tocamos como queremos e o que achamos de novo. Somos a orquestra do movimento alternativo porque tocamos o que as pessoas livres querem ouvir. Não somos um anti-grupo, não somos anarquistas: somos a favor da liberdade, da criatividade e da beleza."

O caso envolvendo a música - talvez a única ramificação das artes que possa se dar ao luxo de renegar padrões rígidos de educação ¾ também foi a fagulha de desencontros ideológicos na Internacional Situacionista. Dicotomias internas, envolvendo conceitos díspares de um mesmo credo, deixaram à mostra a ausência de dinâmica interna. Um desses embates sucedeu-se entre Debord e o músico situacionista Walter Olmo, que apresentou um texto chamado "Por um Conceito de Música Experimental". O escrito, radicalmente rechaçado por Debord, onde Olmo relatava suas pesquisas musicais referentes a construções de ambiências, é relegado à "atitude típica do pensamento de direita". O ensaio custou a expulsão sumária de Olmo da Internacional Situacionista. Outra polêmica de Olmo em torno das experimentações é relacionada à invenção do tereminófano, uma traquitana emissora de notas, variáveis conforme o ir e vir de pessoas em uma galeria de arte.

No cerne dos situacionistas, nova incompatibilidade é denotada pela ala de Munique, representada pela revista Spur (traço ou caminho), editada pelo grupo Spur, em 1960. O Spur apostava na produção coletiva e não-competitiva da arte, contrastando com os arraigados objetivos de supressão propostos por Debord. "A arte não tem nada a ver com verdade. A verdade está entre entidades. Querer ser objetivo é ser parcial. Ser parcial é pedante e entediante...NÓS EXIGIMOS O KITSCH, A SUJEIRA, A GOSMA PRIMORDIAL, O DESERTO. A arte é o monte de excremento no qual o kitsch cresce. Em vez de idealismo abstrato, queremos niilismo honesto", atestava a reclamatória de 1961, publicada no periódico.

Em 1978, o ativista situacionista David W., centrado em Guy Debord, no texto "The End of Music", reprova o trabalho do programador visual do Sex Pistols, Jamie Reid. O designer era colaborador de um veículo oficial dos situacionistas, o Point Blank, e utilizou algumas das imagens que produziu na capa do single "Pretty Vacant". Pelo ponto de vista de W., Reid estava suprindo a renegada King Mob de trabalhos pertencentes à Internacional Situacionista. "Malcon McLaren", protesta ele, "empresário dos Sex Pistols, foi amigo de indivíduos versados na crítica situacionista na Inglaterra e se apropriou de alguns dos slogans e atitudes daquele ambiente...O EP 'Pretty Vacant' foi promovido por um pôster com fotos cortadas de dois ônibus indo na direção das palavras TÉDIO e LUGAR NENHUM - imagem tirada direto das páginas de Point Blank".

Quando, em 1989, Debord publicou um dos seus últimos escritos, "Comentários sobre a Sociedade Espetacular", argüindo que as premonições feitas 1967 tornaram-se verdades, fez apenas uma ressalva: a sociedade espetacular, no mundo contemporâneo, transmutou-se numa nova forma, definitivamente integrada ao espetáculo. De maneira análoga ao Punk, Debord privilegiou um estilo de vida às margens dos oficialismos; das artes, da política e das instituições. Em dezembro de 1994, contando então 64 anos e vivendo no mais restrito isolamento, Debord escolhe pelo suicídio. A imprensa francesa, que o havia repudiado durante mais de quarenta anos, de maneira absurdamente irônica, constrói sobre ele o estereótipo de celebridade "hollywoodiana", reprocessando seu libelo, de pífio subproduto cultural, a objeto de culto em diversos países. Tal como ocorreu com o Punk, à medida em que, de underground, passou a top of the pops. A Sociedade Espetacular, contra a qual Debord e o Punk se debateram a vida inteira, não concedeu indulgências nem mesmo aos seus maiores visionários.

* Cristiano Bastos é jornalista de Porto Alegre e seu texto "Destruição: O Punk Edificado em Guy Debord", já foi publicado na Revista Mondo Bizarre, em Portugal.

sábado, 22 de dezembro de 2007


PORRA! O REFUSED TÁ MORTO!!!!!!!!!!!
(último comunicado de imprensa do refused)

Como os teóricos políticos e os filósofos(Baudrillard,Focault, Derrida, Debord e por aí vai...) nós também lidamos com uma dose de estar cumprindo uma profecia(?). a transformação de uma idéia em ação concreta.quando em 1972 os quilapayuns perceberam a importância de alargar o seu espectro de ação dividindo a banda em cinco diferentes seções de ação para serem capazes de espalhar as suas idéias em tantas localidades e pessoas quanto fosse possível, eles compreenderam o principio da organização massiva do coletivo.uma divisão em cinco novas e diferentes direções significam na pratica cinco novos projetos que podem desafiar e lutar contra o tédio e morte que rastejam dentro da nossa vida diária. cinco novos caminhos para concretizar o manifesto conhecido sob a bandeira coletiva de "refused party program"(programa do partido refused), cinco novas forças que podem mastigar e engolir cada tendencia da algema burguesa que nos prende.
então pq o refused precisou morrer para estar apto a nascer das cinzas como a fênix? é impossivel tomar parte no programa revolucionário quando cada aspecto da existência foi projetado como entretenimento e musica, uma tradição em que ambos , expressão e criatividade, estiveram mortos por tempo demais. Nós esperávamos ser o ultimo prego no caixão do cadáver podre do que foi a música popular, mais desafortunadamente, a reificação foi grande demais para que tivéssemos sucesso nossos débeis ataques passassem por esse discurso chato. quando toda expressão, não importa quão radical ela seja, pode ser transformada em comodidade e ser vendida ou comprada como refrigerante barato, como será possível que vocês saibam o que é arte real? quando toda idéia politica tem que se tornar segura e ser categorizada só para que possam ser definidas( e vendidas?) por "jornalistas" que só visam a venda de suas publicações e seus salários, como será que nós podemos mostrar a seriedade dessa situação?quando a utilidade de cada canção gravada é acumular lucro para gravadoras que se esforçam para matar tentativa de espontaneidade e criatividade, como eles esperam que criemos?
quando cada show feito é só mais um tijolo na parede entre as pessoas, entre "fãs" e "estrelas", quando ao invés de nos comunicarmos ou de interagirmos nós somos forçados a nos tornar nada alem de consumidores e produtores.quando pessoas são glorificadas como gênios e ídolos só porque fazem musica ou escrevem livros ou qualquer coisa igualmente chata e "cultural",quando a crença mais amplamente difundida é a de que a sua criação é mais importante que a tomada de parte dessas pessoas na vida cotidiana...o que isso diz ao resto de nós e o que isso diz sobre o sistema em que vivemos?quando continuamos a sustentar o mito da auto-realização burguesa dizendo que qualquer um pode fazê-lo,desde trabalhe duro, ou pegue uma guitarra, nós sustentamos o sonho de trabalhos bons versus trabalhos ruins(rockstar= trabalho bom, trabalhador de fábrica =trabalho ruim)sendo assim, nós também apoiamos o sistema de classes e sua justificativa.Quando a nossa auto-proclamada elite nos fala sobre cultura, a cultura que nos ilude quando nos faz crer que haja somente isso como cultura, sem nenhuma consideração quanto aos sistema econômicos e politico.quando nos tornamos só mais uma subcultura com todos atributos corretos(?) ao invés de uma contra-cultura real, está na hora de morrer, de reavaliarmos a posição em que estamos.
O Refused acabou em 26 de Setembro de 1998 em Atlanta, Georgia, e em seu ultimo e fraco esforço para quebrar a linha de tempo linear que os meios modernos de produção nos forçam a seguir nós fizemos um ultimo show em Harrissonburg, Virginia, em 6 de Outubro de 1998. O show foi interrompido pela policia local após termos tocado 4 músicas, quando estes acharam que era o bastante. Nós sabemos que eles estavam entre nós, mas isso nos trouxe um misto de espanto e alívio, quando percebemos que eles não conseguiram nos pegar antes do último show. Então depois de 7 anos tentando, nós finalmente conseguimos produzir nosso próprio espaço de tempo frente a estrutura de poder capitalista. A multidão continuou a se manifestar um momento passional e vívido quando continuou a gritar "RATHER BE ALIVE!"(n.d.e.:preferiria ficar vivo!!!)aos corruptos e desnecessários protetores da propriedade privada.
E agora????nós continuaremos com cada tentativa , derrubar o sistema de classes, queimar os museus e estrangular essa grande mentira a que nós chamamos "cultura". nós continuaremos com novos projetos e novas forças fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para derrubar a estrutura capitalista que aliena todos de cada aspecto da vida e da existência, esmaga a reificação (n.d.t.: atitude que consiste em tratar conceitos abstratos como se fossem reais ou objetivos.)que nos força a vestir identidades e e regras ultrapassadas: nós continuaremos a insistir na revolução aki e agora, e não naquele futuro vago e distante que todos os esquerdistas fundamentalistas e reformistas estão falando.Nós queremos que cada dia e cada ação sejam manifestações de amor, alegria,confusão e revolta. essa é a ultima vez que nós vamos dizer isto: NÃO IREMOS DAR ENTREVISTAS PARA REPÓRTERES ESTÚPIDOS que ainda não nos deram nada daquilo procuramos, nós nunca vamos voltar a tocar juntos e também não tentaremos glorificar ou celebrar o q fomos. Tudo o q tinhamos a dizer foi dito aqui ou em nossas músicas/manifestos/letras se eles não foram suficientes , vcs não estarão satisfeitos com isto aqui também: DE AGORA EM DIANTE O REFUSED EXIGE QUE TODOS OS JORNAIS QUEIMEM SUAS FOTOS (!!!) para que nunca mais sejamos torturados com memórias de um tempo que já passou e que o jornalismo decidamente fabricador de mitos e incompetente nos oferece. ao contrário de olhar pra trás, nós teremos tudo a ganhar olhando pra frente, e nada além do nosso tédio a perder.

O REFUSED ESTÁ MORTO! LONGA VIDA AO REFUSED!

sábado, 1 de dezembro de 2007



O Mistério
da
Fábrica


Simone Weil


Extraído da coletânea de textos de Simone Weil intitulada 'A Condição Operária e Outros Estudos sobre a Opressão', publicada pela editora Paz e Terra. Tradução de Therezinha Langlada.


I - O mistério da máquina.

Guihéneuf: como o operário não estudou matemática, a máquina é um mistério para ele. Só vê nela um equilíbrio de forças. Então se sente inseguro na frente dela. Ex.: o torneador que, tateando, encontrou uma ferramenta que permitia cilindrar, ao mesmo tempo, o aço e o níquel, em vez de trocar de ferramenta para passar de um metal a outro. Para Guihéneuf trata-se simplesmente de um corte; entra nessa em cheio. O outro vai com um respeito supersticioso. O mesmo acontece com uma máquina que não dá certo. O operário vai ver que é preciso introduzir nela uma ou outra coisa... mas muitas vezes ele faz um conserto que, fazendo-a andar, condena-a a um gasto mais rápido ou a um novo enguiço. O engenheiro? - Nunca. Mesmo se ele não se serve nunca do cálculo diferencial, as fórmulas diferenciais aplicadas ao estudo da resistência dos materiais lhe dão uma idéia precisa de uma máquina enquanto jogo determinado de forças. A prensa que não funcionava e Jacquot. É claro que para Jacquot essa prensa era um mistério, bem como a causa que a impedia de funcionar. Não tanto como fator desconhecido, mas em si mesma, de alguma forma. Ela não anda... Como se fosse uma recusa da máquina.
O que não entendo nas prensas: Jacquot e a prensa que dava 10 golpes seguidos.

II - O mistério da fabricação.

É claro, o operário ignora o uso de cada peça: 1) a maneira como se ajusta às outras; 2) a sucessão das operações por que passa.; 3) o uso final do conjunto.
Mas, tem mais: a relação de causas e efeitos no interior do próprio trabalho não é apreendida.
Não há nada de menos instrutivo que uma máquina...

III - O mistério do "jeito de mão".

Circuitos dos quais tive de tirar os cartões. No princípio não sabia separá-los com macetadas. Nessa altura fiz raciocínios sobre o princípio da alavanca, o que não me adiantou nada... Depois aprendi muito bem, mas sem nunca ter percebido nem como aprendi, nem como estou fazendo.
Principio essencial da habilidade manual do trabalho na máquina (e fora dela?) mal expresso. Que cada mão faça apenas uma operação simples. Ex. O trabalho sobre faixas metálicas: uma das mãos empurra, a outra apoiada na trave. Placas de metal: não segurar com a mão; deixar pousar sobre a mão, apoiar em direção à trave com o polegar. Fita de polimento: apoiar com uma das mãos, puxar com a outra, deixar a fita rodar a peça, etc.

Transformaçôes desejáveis.
Máquinas-ferramentas diversas lado a lado numa mesma seção. A montagem ao lado. A disposição da fábrica de forma que dê a cada trabalhador uma visão de conjunto (isso, evidentemente, supõe a supressão do sistema dos reguladores).
Especializações degradantes:
Do operário - da máquina - das partes de fábricas (dos engenheiros?)

Organização da fábrica.
Falta de tamboretes, de caixas, de latas de óleo.
Cronometragem fantasista. E são as tarefas miseravelmente pagas pelas quais a gente mais se cansa, porque todas as forças ficam tensas, até o extremo limite, para não pegar o "cartão amarelo". (Exemplo, convivência com Mimi, na terça da 7ª semana). A gente se esgota, se mata por 2 F. por hora. E não por estar realizando uma tarefa que requeira esse esgotamento; não, apenas por causa do capricho e da negligência do cronometrista. A gente se mata sem nenhum resultado, nem subjetivo (salário), nem objetivo (obra realizada), que corresponda ao sofrimento. Aí é que a gente se sente realmente escravo, humilhado até o mais íntimo de si mesmo.
Para cada tarefa há uma quantidade limitada - e fraca - de possíveis erros, suscetíveis, uns, de quebrar a ferramenta, outros, de matar a peça. No que diz respeito à ferramenta, só há mesmo alguns erros possíveis por categoria de tarefas. Seria fácil para os reguladores assinalar essas possibilidades às operárias para que elas tivessem alguma segurança.

(De La condition ouvrière)